quinta-feira, 7 de abril de 2011

Florilegium Impudicitiæ

Marcabru, L'autrier jost una sebissa, séc. XII:



Um dos mais antigos trovadores de que se tem conhecimento, Marcabru inventou o gênero lírico chamado Pastorela, em que narra com vários desfechos possíveis o encontro de um cavaleiro e uma pastora. Em L'autrier jost una sebissa a pastora responde com argúcia a todas as investidas do conquistador, que chega a usar o "uma garota como você não deveria estar aqui sozinha" e tem a pachorra de dizer que ficaria contente em ver "eu em cima, tu embaixo". A versão do vídeo, executada pelo Ensemble La Reverdie, omite algumas estrofes e termina singelamente com a mocinha dizendo que não quer trocar sua virgindade pela fama de putana. Aqui o texto inteiro, com tradução em inglês. Aqui uma traduçãozinha minha e do Bruno Gripp.


Anônimo (das Carmina Burana), Ich was ein chint so wolgetan, séc. XIII:


Carmina Burana, ao contrário do que todos pensam, não é só o nome daquela peça do Carl Orff cujo primeiro movimento é usado desde em cenas de ação até no filme do Jackass. É originalmente um manuscrito dos séculos XI, XII e XIII com diversos poemas em latim, alemão antigo e provençal, não raro misturados, como é o caso desta peça aqui. Boa parte dos poemas parece ter sido escrita por Goliardos - certa sorte de estudantes universitários da idade média, que erravam por aí falando de amor (sensual ou não), bebida e natureza (e tirando uma com a igreja católica, mas isso é outra história). Poderia discorrer por linhas e linhas sobre o manuscrito, mas para este florilégio de sacanagens basta saber que a peça do vídeo narra o encontro entre uma guria purinha e virginal e um safado-cachorro-sem-vergonha que a deflora na moita de tílias que ficava do lado da estrada. Letra e tradução inglesa aqui.


Henry Purcell, Once, twice, thrice I Julia tried, séc. XVII:



Entramos agora no prolífico campo dos dirty canons. Purcell, um compositor barroco da Inglaterra, compôs uma série de canções de taverna chamada "Catch Club" ou "Merry Companions", descritas na primeira edição como uma reunião das "mais divertidas canções para três e quatro vozes". Li alguma vez em algum lugar que essas peças foram escondidas das edições integrais das obras de Purcell por décadas pra não sujar a imagem do compositor, mas não vou verificar a confiabilidade da informação porque já são cinco horas e eu tenho aula de manhã. Deixo-lhes pois o texto deste singelo cânone, e sua tradução:

Once, twice, thrice, I Julia tried.
The scornful puss as oft denied:
And since I can no better thrive,
I'll cringe to ne'er a bitch alive;
So kiss my arse delightful sow,
Good claret is my mistress now.

Uma, duas, três vezes tentei seduzir Júlia.
a insolente gata recusou sempre:
e como eu não posso fazer melhor,
não mais andarei atrás de qualquer outra cadela.
beija-me o cu, desdenhosa criatura.
o bom clarete é doravante a minha amante.



Pra fechar, Wolfgang Amadeus Mozart, Leck mir im Arsch, séc. XVIII:



Do Mozart coloco duas, pra aumentar a fama já grande de piadista grosseirão. A letra e tradução dessa:

Leck mich im Arsch,
Laßt uns froh sein!
Murren ist vergebens!
Knurren, Brummen ist vergebens,
ist das wahre Kreuz des Lebens,
das Brummen ist vergebens,
Knurren, Brummen ist vergebens, vergebens!
Drum laßt uns froh und fröhlich, froh sein!

Lamba-me na bunda
Sejamos felizes!
É vão resmungar
Rosnar, zangar-se é vão,
é a verdadeira cruz da vida,
Zangar-se é vão,
Resmungar, zangar-se é vão, vão!
Sejamos pois contentes e alegres!


E por fim (que, como disse, amanhã tenho análise musical às 10h e fico aqui reunindo impropérios):


Bona nox!
bist a rechta Ochs;
bona notte,
liebe Lotte;
bonne nuit,
pfui, pfui;
good night, good night,
heut müßma noch weit;
gute Nacht, gute Nacht,
scheiß ins Bett daß' kracht;
gute Nacht, schlaf fei g'sund
und reck' den Arsch zum Mund.

Boa noite!
És bem uma coruja;
Bona notte,
Cara Lotte,
Bonne nuit,
pfui pfui;
Good night, good night,
Ainda hoje iremos longe;
Boa noite, boa noite,
Cague na cama com toda força,
Boa noite, durma bem,
e meta bunda na boca.

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